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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

risóles.

o risóles era um salgado muito, mas muito maneiro. o rapaz adorava festejar. festejava tudo ! vitória do time, derrota do rival, partidas de videogame, boa música, notas boas, notas ruins, notas média e até notas tão baixas que seriam quase inotáveis, com o perdão da piada. posso lhes afirmar que, dentro do postinho, o risóles era queridíssimo por todos os outros salgados (inclusive a galera mais cremosa, aquela com maracujá, creme e frutinhas no meio). risóles era simplesmente, risóles. ponto.

risóles não era sozinho. como em qualquer postinho de beira de estrada, haviam outros salgados nutritivos e ricos em HDL/LDL. coxinha, quibe frito, pastel engordurado de pizza, pizza engordurada de pastel, enroladinho de presunto e queijo mas, nenhum outro era tão delicioso quanto aquela empada.

huuuuum ! mas que bela empada era aquela, meus camaradas. havia sido feita com o mais belo dos pares de coxas do paraná da região ! a nobre empada vivia a mesma rotina todo santo dia: era caminhoneiro babando pra cima dela de minuto em minuto. rolava até aquela inveja por parte dos outros salgados. risolés que não era idiota, sempre que podia, olhava aquela empada de baixo pra cima, como quem escolhe um salgado.

o ato de escolher um salgado no meio de uma viagem, na beira da estrada, é algo demasiadamente complexo.
primeiramente, devemos fazer uma triagem. eleger os prós e contras. fazer uma escolha pelo simples fato de ter que fazê-la, é simplesmente imbecil. o próprio ato de eleger 'prós e contras', também. a triagem deve ser feita instintivamente. hoje em dia o termo 'arriscar escolhas com o coração' é motivo de piada pra muita gente. pra mim não é. se arriscar em uma escolha, sem saber onde podemos parar é uma das atitudes mais nobres, onde colocamos toda uma carga de sentimento. as vezes o que combina, não é certo. as vezes o que combina, também não é certo. as vezes o que você acha ou não acha que combine ou não combine, jamais será certo. simplesmente, confie, sem medo.
segundo passo, mantenha-se intacto. não mude. reaprenda. torne suas atitudes melhores, e não diferentes. não faça 'x' porquê 'y' é errado pra alguém. ao invés de mudar, tente mostrar o quão 'y' pode ser bom ! reaprender junto é sempre construtivo, pra ambos os salgados.
por fim, mantenha o salgado aquecido. ninguém gosta de salgado frio, murcho, sem graça.

baseado em tudo isso, o risóles pôde unir o útil ao agradável. todo o sabor de uma maravilhosa empada com o que seu coraçãozinho de massa de batata o dizia.

pobre risóles. adorava gestos, demonstrações e repetir o quanto gostava daquele outro salgado. a empadinha pensava diferente. não seguia toda essa linha. apesar de toda a insistência, o risóles continuou. ele sabia que não havia nada de errado naquilo tudo. no fundo, pensava que quem sofria com tudo isso era a empadinha. era mau acostumada.

mau acostumada com o que é bom, feliz, sorridente e livre de problemas. a coitada não tinha culpa, havia sido contaminada por muita coisa ruim em sua vida. salgado RUIM e AZEDO existe aos montes por aí. isso não fez ele desistir, ao contrário, lhe deu mais força. queria fazer aquela empada reaprender a enxergar as coisas boas, tirar aquilo que não merecia stress e preocupação de sua cabeça. queria dizer um 'eu te amo' e receber um abraço com cheiro de frango em troca. simples e sem frescura. um abraço.

escolher um salgado a sua altura, agora, na beira da estrada da longa viagem que é a vida, é tudo isso.
nunca desistir, nunca deixar de dizer, nunca não transparecer.